A regio do Rio
Carangola fora palco de espordicas incurses de aventureiros,
extrativistas da poaia e faiscadores poca da minerao. As vertentes do
rio eram, ento, matas virgens, habitadas por ndios puris. Caberia aos
irmos Lessa, famlia de origem sa, a organizao dos primeiros
roados a partir de 1830. Trs anos depois j havia no local onde hoje
est edificada a cidade, pequeno agrupamento - Arraial Novo. Nos anos
quarenta, o nmero de roas j era expressivo. Dispunham-se, de modo
intermitente, as construes modestas ao longo do rio. Tambm os
tropeiros, antes raros, intensificaram as agens por aqueles stios
rumo a Campos.
Em homenagem ao episdio da sublevao liberal mineira (combate de Santa
Luzia, no Rio das Velhas), os habitantes de Arraial Novo mudaram o seu
nome, em 1842, para Santa Luzia do Carangola. Em 1859 os moradores
constroem uma capela, com patrimnio doado por fazendeiros da regio,
sendo criado o curato em 1862.
A fazenda na regio do vale do Carangola, at meados do sculo XIX, no
era uma plantation. Sua caracterstica fundamental era a auto-suficincia
e diversificao interna. A fazenda no era uma empresa: ela nunca se
especializava na produo mercantil e suas decises econmicas raramente
eram determinadas por foras de mercado. A cultura do caf, introduzida na
dcada de 50, mudou este perfil sem, entretanto, perder a diversificao.
Uma conjuntura de elevao de preos internacionais e geada em cafezais
paulistas, entre os anos de 1868 e 1876, favoreceu largamente o
desenvolvimento da lavoura, fato que permite o crescimento da cidade e as
conseqentes melhorias urbanas. Assim, em 7 de janeiro de 1882, como
afirmao de prosperidade, instalava-se a 1a. Cmara Municipal,
desmembrada Santa Luzia do Carangola do municpio de Muria.
Chega o trem da Leopoldina em Carangola com seus vages de mercadorias e
ageiros. Seria o contato estreito com a capital do Pas, de onde
partiam jornais dirios, bem como viajantes, cujo papel foi decisivo na
mudana de costumes da populao da cidade. O caminho, que antes era feito
por um percurso fluvial at Campos e outro martimo de Campos at a Corte,
exigia, em condies normais, algumas semanas de riscos e aventuras. Agora
reduziu-se o trajeto, e a mquina, partindo do Rio no comeo da manh,
alcanava a estao de Carangola no tempo mximo de 15 horas. O trem da
Leopoldina forava, ademais, a introduo de melhorias no beneficiamento
do caf, alem de garantir seu escoamento.
A abolio, nos anos seguintes, provocaria uma crise de mo-de-obra em
todo o vale. Para se ter uma idia da importncia do escravo para o
trabalho agrcola, somavam eles, em 1883, em toda a Mata, 86.635 pessoas.
Porm as boas exportaes de 1889 e 1890, efetuadas a preos altos,
aumentaram a receita de divisas. Tem comeo um esforo de promover o
trabalho livre na regio. Em 1887 uma lei provincial ava a estimular
auxlio do Governo aos imigrantes. O centro distribuidor da mo-de-obra
pelos municpios seria Juiz de Fora. Porm do contrato firmado entre o
Governo de Minas e a Estrada de Ferro Leopoldina que nasceram as
colnias de imigrantes da Mata. Em Carangola surgiria o ncleo "Pedro de
Toledo", que seria emancipado mais tarde. Vieram primeiro os italianos. No
incio deste sculo chegavam comunidade carangolesa srios, maronitas e
libaneses.
Nos anos vinte ganha ntido contorno a paisagem social. As aldeias viravam
cidades, crescidas com casario e jardins. O caf fortaleceu a lavoura, e o
trem facilitaria o contato com vrias localidades. Chega a informao pelo
telgrafo e pelo correio, atualizando a gente interessada nas coisas. A
cidade conquista o calamento. Ps-de-moleque cobriram-lhe as ruas
estreitas. Chegam a luz eltrica e gua encanada. Porm, em 1931, a crise
do caf interrompe o processo cultural da comunidade cafeeira de
Carangola. Golpe seco e penetrante, que sangra o organismo social,
esvaziando o ncleo urbano de recursos. Entretanto, a economia se
estabilizaria, e nos anos seguintes Carangola afirmaria sua vocao
agrcola.
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